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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tomé: falta de provas ou desdém das evidências?

Muitos pensam que fé é crer sem evidências naquilo em que se acredita. Já ouvi diversas vezes em meus anos de cristianismo que mesmo que o “mundo” diga o contrário, mesmo que as evidências digam o contrário, você tem que crer. Crer em Deus, crer em Jesus, crer na Bíblia, mesmo que de olhos fechados. Essa visão de fé para cristãos tem ensinado nossas igrejas a não pesquisar, a não analisar as evidências e a acreditar que Deus não nos dá evidências para nossas crenças. Tomé é um exemplo usado por muitos contra o assunto da apologética (defesa racional do cristianismo). A história se desenrola depois da ressurreição de Jesus, quando todos os discípulos, menos Tomé, haviam se encontrado com o Cristo ressurreto e visto as feridas dEle: “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-Se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco. E, dizendo isto, mostrou-lhes as Suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor” (João 20:19, 20)

Porém, o fato de Tomé não estar entre eles fez com que se desenvolvesse nele um sentimento de dúvida. “Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em Suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no Seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (João 20:24, 25).


Jesus, sabendo disso, visita o discípulo e prova de uma vez por todas a Sua ressurreição, e ainda chama a atenção de Tomé. “Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as Minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé respondeu, e disse-Lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20:27-29).A história é usada por dois grupos: cristãos e céticos. Alguns cristãos usam-na para criticar aqueles que defendem o cristianismo com evidências, sejam elas científicas, históricas, geográficas filosóficas ou arqueológicas. Esses normalmente podem se encaixar na categoria de fideístas, ou seja, pessoas que acreditam que não devemos utilizar argumentos para defender aquilo em que cremos.


Em um famoso site de perguntas e respostas, encontrei a seguinte resposta de uma internauta, usando exatamente a história em questão:“No entanto, não se pode provar ou deixar de provar a existência de Deus. A Bíblia até mesmo diz que devemos aceitar por fé o fato de que Deus existe: ‘De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que Se torna galardoador dos que o buscam’ (Hebreus 11:6).


Se Deus assim o desejasse, Ele poderia simplesmente aparecer e provar para o mundo inteiro que Ele existe. Mas se Ele fizesse isso, não haveria mais necessidade de existir fé. ‘Disse-lhe Jesus: Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram’ (João 20:29).”[1]Agora, vamos ao outro lado da moeda: os críticos do cristianismo. Esses gostam de utilizar a história de Tomé como forma de demonstrar que os cristãos creem cegamente e que, quando se trata de crenças essenciais, eles negam as evidências e creem, apesar das provas contrárias. Isolando a citação de Jesus, os críticos “provam” que o próprio fundador da religião cristã é contra a racionalidade da fé. Veja a seguir o que escreveu o cientista de informações Hubert Yockey:“A visão dos teólogos é discutida na carta aos Hebreus: ‘Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.’ O mesmo tema aparece no Evangelho de João 20:24-28, onde Tomé ‘o incrédulo’ exigiu evidências positivas e específicas antes que ele pudesse acreditar. Mas foi esmagado pelo Chefe que deu a ele a evidência porém o reprovou: ‘Porque Me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.’ Esse é o ponto de vista da religião.[2]


Histórico de Tomé

Depois de entender esses dois usos da história, vamos analisar o contexto histórico de Tomé e entender o que realmente aconteceu ali. Segundo os críticos, Tomé estava pedindo evidências sérias e não muito difíceis e, mesmo assim, foi “esmagado pelo chefe”, mas, segundo eles, Tomé estava fazendo o que era certo: racionalizando. Será que esse era o caso? Será que Tomé não tinha qualquer outra evidência da ressurreição de Jesus? Vejamos: Jesus já havia dado evidências suficientes a ele e aos outros discípulos a respeito de Sua ressurreição. Tantas que eles estavam dispostos a morrer por essa verdade – inclusive Tomé se tornou mártir, mais tarde, na Índia. Jesus já havia realizado muitos milagres, que Ele chamava de “sinais”, e que são fortes evidências de historicidade.


Também é explicado nos versos seguintes dessa história (normalmente omitidos pelos críticos): “Jesus, pois, operou também em presença de Seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome.”Os milagres que Jesus fez durante Seu ministério deixaram bastante evidente o poder dEle de realizar grandes milagres, até mesmo de ressuscitar.


Tomé era tão confiante em quem Jesus era e no que Ele podia fazer, que o próprio João relata uma ocasião em que Jesus planejava ir à Betânia por causa da morte de Lázaro, e Tomé foi o primeiro a dizer aos outros discípulos: “Vamos nós também para morrermos com Ele!” (Jo 11:16). Somente alguém com muita fé poderia dizer algo assim.


Quanto à ressurreição, Tomé tinha à sua disposição dez testemunhas oculares (Jesus tinha doze discípulos, porém, tirando Judas Iscariotes e Tomé, entende-se que dez foram os discípulos que viram Jesus), a maioria dos quais sem histórico de mentira e muito menos de visões ilusórias ou insanidade, que poderiam garantir aquilo que viram. Além disso, Tomé havia passado três anos e meio com esses homens, certamente tempo suficiente para construir confiança neles. Jesus já havia falado aos discípulos a respeito de Sua morte e ressurreição após três dias, portanto, Tomé estava ciente do evento também (Lc 2:22-25; 9:22-25; Mt 16:21-28; Mc 8:31-9:1).


A importância das evidências

É verdade que o evangelho de João enfatiza negativamente a confiança em sinais e maravilhas (sendo essa última palavra unicamente utilizada nesse evangelho), ou seja, evidências externas em oposição à fé, como vemos em 2:23-25; 4:38; 6:26. Mas, segundo D. A. Carson, teólogo especializado em Novo Testamento, “o valor apologético de milagres, embora muitas vezes exagerado, não deve ser desprezado: o próprio Jesus pode encorajar a fé nessa base, especialmente naqueles muito céticos para poderem confiar em Sua palavra (10:38; 14:11)”.[3]


Isso nos mostra algo crucial para o entendimento da Bíblia: Deus por diversas vezes utilizou evidências externas para que as pessoas tivessem fé, principalmente aqueles que tinham mais dificuldades em acreditar.Essa afirmação é confirmada ao constatarmos a quantidade de milagres, aparições e inúmeros outros fenômenos sobrenaturais que ocorrem na Bíblia. A maioria deles não acontece com tanta frequência no século em que vivemos. Por quê? Deus precisava chamar a atenção do Seu povo e dos povos vizinhos e mostrar-lhes que aquela mensagem era confiável e digna de ser seguida.


Hoje, talvez não precisemos tanto dos “sinais”, pelo acesso que temos a história, ciência, arqueologia, filosofia e muitas outras áreas que confirmam frequentemente a fidelidade do texto bíblico, a existência do Jesus ressurreto e do Deus Criador. Ironicamente, Tomé ilustra a atitude que o crente deveria ser (crer sem provas), mas se constitui num símbolo dos céticos da atualidade: pessoas que, apesar da imensa quantidade e qualidade de evidências, se negam a aceitá-las. Assim como Tomé duvidou, apesar do background que tinha, infelizmente, os ateus ativistas são culpados do mesmo erro.


Portanto, concluo com um necessário conselho tanto aos crentes quanto aos céticos. Para os céticos: nas palavras do Mestre “não seja incrédulo, mas crente!” (João 20:27b), Deus lhes dá inúmeras evidências para isso e ignorante é quem estuda apenas “um lado da moeda”. E para os crentes: quando Tomé pediu evidências, Jesus concedeu sem pestanejar. Siga o exemplo dele e busque as evidências que Deus tem deixado para nós a fim de crermos e para ajudarmos outros “Tomés” deste mundo cada vez mais cheio de pessoas dispostas a não se comprometer com a verdade.


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